O mês de Setembro foi escolhido para promover a campanha Setembro Amarelo, que visa conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio, um grave problema de saúde pública que atinge milhares de pessoas no mundo todo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sendo que no Brasil os registros se aproximam de 14 mil casos por ano.

A cultura da morte é um fenômeno social que valoriza a morte e a destruição em detrimento da vida e da construção. Essa cultura pode ser encontrada em diversas esferas da sociedade, incluindo a mídia mainstream e o estilo da música sofrência. A mídia mainstream, em sua maioria, é voltada para o entretenimento e o lucro. Por isso, ela muitas vezes retrata a violência, a dor e a morte de forma glamorizada. Isso pode contribuir para a normalização da violência e do suicídio, e pode levar as pessoas a acreditarem que essas são soluções para seus problemas.

O estilo da música sofrência, que é muito popular no Brasil, também pode contribuir para a cultura da morte. Essa música geralmente fala sobre amor, desamor e sofrimento. As letras muitas vezes são melancólicas e depressivas, e podem levar as pessoas a se sentirem desmotivadas e sem esperança.

Dados de evolução da problemática do suicídio no Brasil nas duas últimas décadas, provenientes de fontes oficiais:

IBGE
Em 2010, o Brasil tinha uma taxa de suicídio de 5,24 por 100 mil habitantes. Em 2020, essa taxa subiu para 7,07 por 100 mil habitantes.

O suicídio foi a quarta causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos em 2010. Em 2020, essa causa subiu para a segunda posição.

IPEA
Em 2010, o Brasil tinha 13.523 mortes por suicídio. Em 2020, esse número subiu para 15.685.

O aumento do número de suicídios foi mais acentuado nas regiões Nordeste e Sudeste.  O suicídio está relacionado a diversos fatores de risco, como transtornos mentais, situações de estresse, violência, abuso, perdas, isolamento social, entre outros. Muitas vezes, as pessoas que pensam em tirar a própria vida não encontram apoio emocional, acolhimento ou tratamento adequado para lidar com o seu sofrimento. Além disso, há um grande estigma e preconceito em torno do tema, que dificultam a busca por ajuda e a prevenção.

Nesse contexto, qual é o papel da fé cristã e das instituições religiosas na promoção da vida e na prevenção do suicídio? Como a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo pode oferecer esperança, sentido e propósito para as pessoas que estão sofrendo? Como a igreja cristã e as demais instituições paraeclesiásticas podem contribuir para a assistência integral às pessoas em situação de vulnerabilidade emocional e social?

A fé cristã afirma que a vida é um dom de Deus e que cada ser humano é criado à sua imagem e semelhança, tendo valor, dignidade e potencial. A mensagem do Evangelho de Jesus Cristo revela o amor de Deus pela humanidade e o seu plano de salvação e restauração para todos os que creem nele. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (João 10:10). Essa vida abundante não se refere apenas à vida eterna após a morte, mas também à vida plena aqui na terra, que envolve o bem-estar físico, mental, emocional, social e espiritual.

A fé cristã também reconhece que vivemos em um mundo caído, marcado pelo pecado, pelo sofrimento e pela morte. Jesus disse: “No mundo vocês terão aflições; mas tenham ânimo; eu venci o mundo” (João 16:33). Essas aflições podem gerar angústia, desespero e até mesmo pensamentos suicidas. Por isso, a fé cristã não ignora ou minimiza o sofrimento humano, mas oferece consolo, compaixão e esperança. O apóstolo Paulo escreveu: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação” (2 Coríntios 1:3-4).

A fé cristã também convoca os seus seguidores a serem agentes de transformação no mundo, levando o amor de Deus e o seu Reino aos lugares mais necessitados. Jesus disse: “Vocês são o sal da terra… Vocês são a luz do mundo” (Mateus 5:13-14). Essa missão envolve não apenas anunciar o Evangelho com palavras, mas também demonstrá-lo com obras de justiça, misericórdia e paz. O apóstolo Tiago escreveu: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições” (Tiago 1:27).

Nesse sentido, a igreja cristã e as demais instituições paraeclesiásticas têm uma importante contribuição para a prevenção do suicídio, pois podem oferecer um espaço de acolhimento, escuta, oração, aconselhamento e encaminhamento para as pessoas que estão em sofrimento. Além disso, podem desenvolver ações sociais que visem promover a saúde mental, a inclusão social, a educação, a cultura, a arte e a cidadania. Essas ações podem beneficiar não apenas os membros da comunidade religiosa, mas também as pessoas do entorno e da sociedade em geral.

Existem diversos exemplos de iniciativas cristãs que atuam nessa direção, como os Gideões Internacionais, que distribuem Bíblias e literatura cristã em hospitais, escolas, presídios e outros locais; a Cristolândia, que é um programa de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos; os hospitais, escolas e universidades confessionais, que oferecem serviços de qualidade com uma visão cristã; entre outros.

Essas iniciativas podem fazer a diferença na vida de muitas pessoas que estão à beira do suicídio ou que já tentaram se matar. Um exemplo disso é o testemunho de uma mulher que foi salva por uma Bíblia dos Gideões que estava no quarto do hotel onde ela pretendia se suicidar. Ela conta: “Eu estava decidida a acabar com a minha vida. Eu tinha comprado um revólver e alugado um quarto de hotel.

Antes de puxar o gatilho, eu vi uma Bíblia em cima da mesa. Eu abri em um trecho aleatório e li: ‘Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (João 3:16). Aquelas palavras me tocaram profundamente. Eu percebi que Deus me amava e tinha um propósito para a minha vida. Eu desisti de me matar e procurei uma igreja. Hoje eu sou uma nova pessoa, feliz e grata por estar viva” .

Exemplos específicos de como a igreja cristã pode combater a cultura da morte

A igreja cristã pode combater a cultura da morte de diversas maneiras. A seguir, alguns exemplos específicos:

  • Promover a educação sobre a prevenção ao suicídio. A igreja pode oferecer palestras, cursos e materiais educativos sobre o tema.
  • Oferecer apoio e orientação a pessoas que estão em risco de suicídio. A igreja pode oferecer aconselhamento pastoral, grupos de apoio e outras formas de ajuda.
  • Lutar contra os fatores sociais que contribuem para o suicídio. A igreja pode trabalhar para reduzir a pobreza, a desigualdade e a violência.

A igreja cristã pode fazer uma diferença real na luta contra o suicídio. Ao promover a esperança cristã, ela pode ajudar as pessoas a encontrarem sentido e propósito na vida. Portanto, o Setembro Amarelo é uma oportunidade para refletirmos sobre a cultura da morte que predomina na mídia mainstream e no estilo “sofrência” da música sertaneja, que muitas vezes glamourizam ou banalizam o sofrimento e induzem ao suicídio, e contrapormos com a cultura da vida que é proposta pelo Evangelho de Jesus Cristo, divulgado por meio da música sacra, bem como pela prática social histórica da igreja cristã e demais instituições paraeclesiásticas.

A vida é um dom de Deus e deve ser preservada, valorizada e celebrada.
“Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” (2 Coríntios 7:10 ACF)

As fontes pesquisadas, via MS Bing e Google Bard:

  • Livros e artigos acadêmicos:
    o “The Theology of Hope” de Jürgen Moltmann
    o “Cultura da Morte e Esperança Cristã” de Leonardo Boff
    o “Suicídio: Prevenção e Tratamento” de Paulo Dalgalarrondo
  • Sites oficiais:
    o Ministério da Saúde
    o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
    o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
    o Gideões Internacionais
    o Cristolândia
  • Referências bíblicas aplicadas:
    • Salmos 13:5-6: “Eu me deito em minha cama e me levanto, e estou angustiado; pois com o seu furor sou afligido, e com a sua ira sou ferido.”
    • Isaías 40:31: “Mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, andam e não se fatigam.”
    • João 3:16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
    • 1 Pedro 1:3-5: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada nos céus para vós, que sois protegidos pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar no último tempo.”
  • Sites pesquisados:
    • https://www.setembroamarelo.com/
    • https://www.gideoes.org.br/testemunhos

Por: Adauto Santos, teólogo e professor

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