O amor ao próximo é um dos fundamentos da mensagem cristã. Jesus ensinou que devemos amar nossos inimigos e perdoar os que nos ofenderam. No entanto, a história humana é marcada por conflitos e violências. Como podemos conciliar essa mensagem de paz e fraternidade com a realidade do mundo?

Um dos desafios que enfrentamos é o paradoxo da origem do bem e do mal. De acordo com a Bíblia, o bem e o mal são duas realidades que coexistem no mundo. O bem é uma criação de Deus, enquanto o mal é uma consequência da queda do homem. No entanto, é difícil entender como Deus, que é amor, pode permitir que o mal exista.

Esse paradoxo é refletido nos conflitos em curso na Ucrânia e em Israel. Na Ucrânia, um país cristão, estamos testemunhando uma guerra de agressão contra um povo inocente. Em Israel, um país judeu, há um conflito de longa data entre judeus e palestinos.

Como podemos amar ao próximo em meio a esses conflitos? Uma resposta possível é que o amor não é apenas uma emoção, mas também uma ação. Amar ao próximo significa agir para promover a justiça e a paz. Isso significa defender os direitos dos oprimidos e trabalhar para resolver os conflitos de forma pacífica.

Outra resposta possível é que o amor ao próximo é uma expressão do amor a Deus. Quando amamos ao próximo, estamos imitando o amor de Deus por nós. Deus nos ama incondicionalmente, mesmo quando não o merecemos. Da mesma forma, devemos amar nossos inimigos, mesmo quando eles nos odeiam.

O amor ao próximo é um desafio, mas é também uma esperança. Quando amamos ao próximo, estamos construindo um mundo mais justo e pacífico. Estamos aproximando o mundo do Reino de Deus, onde reinará o amor e a paz.

O paradoxo das guerras e do amor ao próximo como expressão do amor a Deus é um tema que desafia a reflexão teológica e ética. Como podemos conciliar a mensagem de paz e fraternidade do evangelho com a realidade de conflitos e violências que marcam a história humana? Como podemos afirmar que amamos a Deus, a quem não vemos, se não amamos o nosso irmão, a quem vemos, conforme nos ensina 1 João 3:11-24? Essas são perguntas que exigem uma resposta coerente e comprometida com o projeto de Deus para o mundo.

Uma possível abordagem para esse paradoxo é reconhecer que as guerras não são expressões legítimas do amor a Deus, mas sim manifestações do pecado e da desobediência à sua vontade. As guerras são fruto da cobiça, da injustiça, da opressão e da idolatria que se opõem ao mandamento do amor. As guerras negam a dignidade e a imagem de Deus que há em cada ser humano, independentemente de sua raça, cultura, religião ou nacionalidade. As guerras ferem a criação de Deus e impedem a realização do seu reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

Por outro lado, o amor ao próximo como expressão do amor a Deus é um sinal de fidelidade e obediência ao seu propósito. O amor ao próximo é uma atitude que se traduz em gestos concretos de solidariedade, compaixão, serviço e perdão. O amor ao próximo é uma prática que busca promover a vida em abundância para todos, especialmente para os mais pobres e marginalizados. O amor ao próximo é uma virtude que testemunha o caráter de Deus e revela a sua presença no meio do seu povo.

Além disso, podemos considerar também o paradoxo da origem do bem e do mal, conforme nos relatam Gênesis 3 e Isaías 42 e 48. Como entender que Deus criou todas as coisas boas, mas permitiu que o mal entrasse no mundo por meio da desobediência humana? Como compreender que Deus é soberano sobre todas as coisas, mas permite que o seu povo sofra nas mãos dos seus inimigos? Como explicar que Deus é amor, mas também é justo e irado contra o pecado? Esses são questionamentos que nos levam a reconhecer os mistérios da providência divina e a confiar na sua graça e misericórdia.

Conclusão

O paradoxo das guerras e do amor ao próximo é um desafio que enfrentamos todos os dias. No entanto, a mensagem cristã nos oferece uma resposta: o amor é a força que pode superar o mal e construir um mundo melhor.

Portanto, o paradoxo das guerras e do amor ao próximo como expressão do amor a Deus nos convoca a uma escolha radical: ou seguimos o caminho da violência e da morte, ou seguimos o caminho da paz e da vida. Não há meio termo. A escolha é nossa.

Como têm sido as suas escolhas? Elas refletem o amor de Deus no seu relacionamento com o próximo?

Referências bibliográficas

  • Bíblia Sagrada. Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2001.
  • Chaves, Ronaldo. O amor ao próximo na perspectiva cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2017.
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  • Gutierrez, Gustavo. A força histórica dos pobres. São Paulo: Edições Loyola, 1979.
  • Malcomson, Scott L. A guerra e a paz: uma introdução à história militar. São Paulo: Contexto, 2015.
  • Ricoeur, Paul. A memória, a história, o esquecimento. São Paulo: Editora 34, 2007.
  • Salla, Fernando. Guerra e paz: uma introdução à história das relações internacionais. São Paulo: Contexto, 2022.

Notas

  • 1 João 3:11-24. Este trecho da Primeira Carta de João é um dos mais contundentes ensinamentos bíblicos sobre o amor ao próximo. O autor afirma que quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.
  • Gênesis 3. Este capítulo da Bíblia conta a história da queda do homem no pecado. A queda é o evento que introduz o mal no mundo.
  • Isaías 48;52. Estes capítulos do livro de Isaías falam da redenção do povo de Israel. A redenção é o evento que liberta o povo do pecado e da escravidão.

Por: Adauto Santos, teólogo e professor (powered by MS Bing e Google Bard). 

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