A Bíblia foi escrita em um contexto histórico, cultural e linguístico muito diferente do nosso. Por isso, para interpretar corretamente os seus ensinamentos, é preciso levar em conta as diferenças entre as culturas grega e hebraica, que influenciaram os autores bíblicos e os seus destinatários.

A cultura grega é caracterizada pelo racionalismo, pelo pensamento abstrato, pela lógica e pela busca da verdade universal. Os gregos valorizavam a filosofia, a ciência, a arte e a beleza. Eles tinham uma visão dualista da realidade, separando o corpo e a alma, o material e o espiritual, o temporal e o eterno. Essa visão influenciou a forma como os gregos entendiam Deus, o homem, o mundo e a salvação.

Para eles, Deus era transcendente, distante e imutável. e o homem era composto de duas partes: uma material, corruptível e inferior; e outra espiritual, imortal e superior. O mundo era um lugar de sofrimento, ilusão e imperfeição. A salvação era alcançada pela libertação da alma do corpo, pelo conhecimento da verdade e pela contemplação do bem.

A cultura hebraica é marcada pelo pragmatismo, pelo pensamento concreto, pela experiência e pela busca da sabedoria prática. Os hebreus valorizavam a história, a lei, a profecia e a ética. Eles tinham uma visão holística da realidade, integrando o corpo e a alma, o material e o espiritual, o temporal e o eterno. Essa visão influenciou a forma como os hebreus entendiam Deus, o homem, o mundo e a salvação.

Para os hebreus, Deus era imanente, próximo e fiel. O homem era uma unidade indivisível de vida, responsável por suas ações diante de Deus. O mundo era um lugar de bênção, ordem e propósito. A salvação era alcançada pela obediência à lei de Deus, pelo arrependimento dos pecados e pela esperança na restauração.

Essas diferenças culturais se refletem na forma como os textos bíblicos foram escritos e devem ser interpretados. Por exemplo, os textos do Antigo Testamento usam muitas figuras de linguagem, metáforas, parábolas e símbolos para transmitir verdades espirituais. Já os textos do Novo Testamento usam mais argumentos lógicos, conceitos teológicos, analogias e citações para fundamentar as doutrinas cristãs. Esses dois modos de expressão não são contraditórios, mas complementares, pois revelam diferentes aspectos da revelação de Deus ao seu povo.

Exegese é o método científico de interpretar os textos bíblicos de acordo com as suas características literárias, históricas e teológicas. A exegese visa descobrir o sentido original dos textos bíblicos, levando em conta o seu contexto de produção e recepção. A exegese requer o uso de ferramentas como a crítica textual, a análise gramatical, a pesquisa histórica, a comparação cultural e a síntese teológica.

Hermenêutica é a arte de aplicar os textos bíblicos à realidade atual, levando em conta as suas implicações práticas e existenciais. A hermenêutica visa comunicar o sentido relevante dos textos bíblicos, levando em conta o seu contexto de transmissão e interpretação. A hermenêutica requer o uso de princípios como a coerência bíblica, a analogia da fé, a relevância cultural e a transformação pessoal.

Portanto, para fazer uma boa exegese dos textos bíblicos é preciso respeitar as características literárias de cada gênero bíblico, bem como o contexto histórico-cultural em que foram produzidos. Assim, evitamos distorcer ou anular o sentido original das Escrituras Sagradas.  Você utiliza alguma ferramenta para compreender melhor o que lê na Bíblia?

Por: Adauto Santos. Teólogo, escritor e professor.

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