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Ministérios Eclesiásticos: da catarse contemplativa dos cultos dominicais ao serviço litúrgico real.
Depois de aposentar-me da auditoria interna dos Correios, assumi algumas tarefas domésticas com o intuito de aliviar o cotidiano laboral de minha dedicada esposa, cuja rotina estafante não garantiu a ela o privilégio da aposentadoria. Dentre essas tarefas, uma se destaca como sendo talvez a mais exaustiva, por não dar trégua: lavar a louça ou, como diria minha saudosa mãezinha: “arear as panelas”. Há, na verdade, toda sorte de utensílios de cozinha para limpar, como talheres, panelas, copos etc.
Nesse afã diário há todo tipo de técnicas para higienizar aquelas vasilhas mais gordurosas que requerem mais que água e sabão, pois há que se valer de detergente, vinagre, esponjas e soluções abrasivas (daí o antigo uso da areia), etc.
Ao observar o exercício ministerial nas igrejas, encontrei um paralelo no ministério pastoral, especialmente quando exercido nos gabinetes pastorais, longe dos olhos da congregação. Nessas ocasiões o serviço litúrgico (do grego: laos ergon) é processado no cotidiano das relações humanas conturbadas por toda sorte de demandas, tais como conflitos conjugais, disfunções psíquicas como compulsões, depressões, possessões etc.
Observei também a formação teológica dos pastores, que não dá conta dessas demandas extra púlpito, pois se concentra mais no aspecto da formação intelectual e acadêmica voltada para a necessidade de excelência na pregação da palavra de Deus (homilética). No entanto, o conteúdo deste honroso serviço tende a tangenciar a realidade, quando muito, remetendo a prática litúrgica à realização de cultos dominicais cuja ênfase, frequentemente, propicia uma espécie de catarse coletiva alienante.
Isto remete à busca do Apóstolo Pedro no Monte da Transfiguração, quando desejava construir tendas para perpetuar aquele estado de êxtase contemplativo então experimentado na companhia de Moisés (Lei), Elias (Profetas) e Cristo (Evangelho).
No entanto, “…saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi.” (Lc. 9:35). E o que fez Jesus? Desceu do monte e logo se deparou com uma multidão e a grave demanda de um pai aflito intercedendo pela libertação de seu oprimido filho (Lc. 9:37-40), à qual os discípulos não estiveram aptos a atender.
O quadro que se divisa hoje não é tão diferente. Será que as Faculdades e Institutos de Educação Cristã conseguiriam incluir em seus currículos acadêmicos um programa de estágio prático supervisionado e diferenciado, no qual os alunos pudessem pesquisar e experimentar as práticas dos Centros de Valorização da Vida (CVV), dos grupos de tratamento de Narcóticos anônimos (N.A.) – pessoas com problemas com droga e álcool; Neuróticos anônimos (N.A.) – pessoas com problemas mentais e emocionais; Emocionais anônimos (E.A.) – pessoas com problemas mentais e emocionais; e Dependentes de amor e sexo (D.A.S.A.)?
Assim, certamente nossos ministros sairiam melhor preparados ao campo “que está branco para a ceifa”, aptos a enfrentar os desafios práticos do cotidiano, e não teriam tanta dificuldade ao exercer suas vocações, o que historicamente vem acontecendo no isolamento solitário dos gabinetes pastorais, cuja pressão por tantas vezes insuportável, tem levado tantos ao esgotamento (burnout) e até ao suicídio.
“Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra.” (2Timóteo 2:20-21 ARA)
Fica aí a sugestão! O que vocês têm a acrescentar? Comentem, por favor!
Por: Adauto Santos, teólogo e professor.